Caetano faz 70 anos. Quando gostávamos dele, tantos anos atrás, ele ainda era, por falta de expressão melhor, um homem maduro — aquela imagem que as crianças têm dos pais e dos tios e que não sabem ser passageira. Velhinhos eram só os avós, nossos ou dos outros, uma outra categoria de gente. Avós sempre foram velhinhos para as crianças. Velhinho era o Dorival Caymmi.
Agora Caetano faz 70 anos. Penso em como será vê-lo velhinho tal qual o Dorival Caymmi da minha cabeça de criança, sempre com 80 anos. Caetano com 80 anos, velhinho, Caymmi. Penso em como será ver o Caetano morrer de velhice. Caetano morto.
Mas para ver Caetano completar 80 anos primeiro terei de completar 50. Pois é, meu caro, 50 anos. Eis o tempo em toda a sua natureza. Preciso de silêncio para contemplar essa ideia.
O tempo é nosso mundo comum, nossa unidade, nossa identidade. Ninguém tira o corpo fora para assistir à banda passar. O tempo nos carrega junto. Nunca verei o Caetano velhinho sem que eu me torne velho também. Pela mesma razão, nunca verei um filho meu se tornar velho, porque ainda não o tive e não haverá tempo suficiente para mim quando eu o tiver. Essa ideia do tempo acalenta uma compaixão sincera pelas pessoas. Estamos juntos no tempo. Caminhamos todos para o fim.
Parabéns, Caetano.